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O que faz de uma empresa um excelente lugar para trabalhar?
O que faz de uma empresa um excelente lugar para trabalhar?
Esta pergunta foi feita a um jornalista da Califórnia, Robert Levering, na década de 80. Veterano do Vietnã convertido em militante pacifista, Robert sequer acreditava que poderiam existir bons lugares para trabalhar. Mas, ao invés de criar uma tese sobre o tema, foi fazer aquilo que sabia como jornalista: saiu a campo para explorar o tema e entrevistou centenas de funcionários de empresas de todo o tipo.
Suas descobertas:
A primeira surpresa foi descobrir, através dos próprios funcionários, que sim, existem excelentes lugares para trabalhar, onde as pessoas gostam de estar e não passam o dia olhando o relógio para saber quanto falta para terminar o martírio. Levering ouviu muitas coisas interessantes sobre práticas que as empresas desenvolvem, às vezes bastante simples, que estabelecem fortes vínculos de confiança entre as pessoas
A segunda surpreendente conclusão foi que as empresas consideradas pelos funcionários como excelentes para trabalhar tinham características bastante distintas entre si: algumas muito grandes e outras bastante pequenas, setores da economia e origem do capital dos mais diversos, modelos de gestão e culturas totalmente diferentes, localizadas nas mais distintas regiões do país ou do mundo. Portanto, "qualquer empresa, de qualquer tamanho, em qualquer lugar, pode se tornar um excelente lugar para trabalhar", nas palavras de Levering.
Finalmente, o jornalista constatou que as pessoas entrevistadas falavam - e continuam falando até hoje - coisas muito parecidas, às vezes idênticas, para explicar porque a empresa onde trabalham é um ótimo ambiente de trabalho - ou porque não é.
Reunidas, essas afirmativas comuns dos funcionários resultaram em um questionário que é a base da pesquisa que começou a ser aplicada nas empresas para medir o grau de satisfação dos funcionários - ou "índice de confiança", como prefereLevering.
PESQUISAS NO MUNDO
Levering se apaixonou pelo tema e abandonou todas as atividades para criar o Great Place to Work Institute®. Surgiu, então, a ideia de criar uma lista das Melhores Empresas para Trabalhar, como forma de estimular as empresas a se dedicar efetivamente à melhoria de seus ambientes e divulgar suas melhores práticas. Foi assim que em 1998 a Fortune nos Estados Unidos publicou seu primeiro ranking das 100 Melhores Empresas para Trabalhar naquele país.
Um pouco antes, em 1997, José Tolovi Jr., um irrequieto consultor e empreendedor brasileiro, teve contato com Levering e seu trabalho e percebeu que tudo isso poderia ter um impacto muito grande sobre o desempenho das organizações e a sociedade como um todo. Como Levering, decidiu largar sua posição de diretor em uma renomada consultoria internacional para se dedicar ao tema e montou o escritório do Great Place to Work Institute® no Brasil. Seu incansável ritmo de trabalho conseguiu fazer com que fosse lançada a primeira lista das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil em 1997. Detalhe: as datas estão corretas, ou seja, o Brasil lançou sua lista antes dos Estados Unidos, tornando a nossa a primeira lista no mundo.
De lá para cá o trabalho ganhou corpo. Hoje atinge 44 países. Em 2009, mais de 3.800 empresas participaram das pesquisas e mais de 1,5 milhão de funcionários responderam ao questionário. As várias publicações ao redor do mundo que divulgam a análise completa da pesquisa atingem mais de 24 milhões de leitores. A novidade para 2010 será a publicação da primeira lista global, com as 100 Melhores Empresas para Trabalhar no Mundo.
BOM AMBIENTE DE TRABALHO
Uma vez que a consistência entre as respostas das pessoas é muito grande, ficou simples analisar os resultados e montar um modelo para explicar um bom lugar para trabalhar. Basicamente, o que os funcionários dizem é que um excelente lugar para trabalhar é aquele em que você confia nas pessoas para quem trabalha, tem orgulho do que faz e gosta das pessoas com quem trabalha. Em outras palavras, o índice de confiança (ou "Trust Index®" na pesquisa global) é a medida de três relacionamentos determinantes:
Confiança (relação entre o colaborador e seu líder): os funcionários das melhores empresas falam constantemente sobre o quanto "acreditam" ou "tem confiança" em seus empregadores; ao mesmo tempo, os gestores nas melhores falam como "podem contar com", "dependem" ou "confiam" em seus funcionários.
As pesquisas demonstram que esta é a mais forte das três relações, justificando subdividi-la para melhor entendimento e análise. Daí surgiram as dimensões Credibilidade (a forma como os funcionários enxergam os seus líderes, como, por exemplo, a qualidade da comunicação interna e a competência na gestão de pessoas), Respeito (reconhecimento pelo trabalho e valorização como ser humano) e Imparcialidade (garantia de tratamento a todos os funcionários com regras claras, equidade e justiça).
Orgulho (relação entre o colaborador e o trabalho): os funcionários das melhores normalmente afirmam que "aqui é mais do que um emprego", considerando, por exemplo, as tarefas que faz no trabalho como "desafiadoras" (em contraponto a "entediantes") e "socialmente significativas" (contrapondo a "sem importância").
Camaradagem (relação entre o colaborador e a equipe): esta dimensão avalia a qualidade dos relacionamentos no local de trabalho, variando desde o sentimento de "fazer parte de uma família ou estar entre amigos" até a visão de outros funcionários como "inimigos a serem vencidos"
AMBIENTE E RESULTADOS
Talvez esta seja a questão mais importante, que faz com que as empresas se engajem firmemente em um propósito de transformação do ambiente de trabalho ou simplesmente encarem esta preocupação como "mais uma na lista de gerente de RH". Novamente, os dados coletados nas pesquisas no mundo todo trazem dados bastante contundentes.
Rotatividade Voluntária: o índice de funcionários que deixam empresas em busca de novos desafios representa um enorme desafio para as organizações, pelos custos envolvidos e principalmente pela perda de conhecimento e experiência. As pesquisas do Great Place mostram que este índice cai vertiginosamente entre as Melhores para Trabalhar.
Em setores como varejo e serviços, cujas médias de mercado chegam a bater em 50%, o indicador cai para 15% a 20% entre as Melhores. Em Tecnologia, cai de 20% para 10%. Em outras palavras, quando se fala nas Melhores Empresas, quem está fora quer entrar e quem está dentro não quer sair.
Satisfação de Clientes: estudos conduzidos em vários países mostram que há uma forte correlação entre os melhores ambientes de trabalho e a satisfação dos clientes. Ou seja, melhores práticas de gestão de pessoas levam naturalmente à melhoria da satisfação do cliente, maior retenção e menor custo de aquisição de novos clientes. Investir em pessoas traz retornos financeiros evidentes.
Valor da empresa no mercado: estudo feito no Brasil pela M2 Investimentos (www.m2investimentos.com.br) demonstra a interessante (e lucrativa) correlação entre as Melhores Empresas para Trabalhar e o valor de ações no mercado. Para ilustrar: imagine que você tenha investido R$ 100 mil na Bolsa de Valores de São Paulo em 2000. Com uma boa orientação financeira, seguindo o Ibovespa (um dos melhores investimentos do mundo), você teria hoje cerca de R$ 409 mil. Sem dúvida, um excelente ganho, considerando inclusive os efeitos da crise mundial que começou no final do ano passado.
Entretanto, se o seu único critério para montar sua carteira de ações foi o fato de a empresa estar na lista das Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, você teria hoje três vezes mais, ou cerca de R$ 1, 2 milhão!
Os números são surpreendentes mas o raciocínio é lógico: as Melhores Empresas atraem e retêm os melhores talentos, funcionários confiantes servem melhor aos clientes e estimulam os fornecedores a oferecer melhores serviços, as empresas são mais produtivas, rentáveis e muito mais comprometidas socialmente.
As pesquisas também ajudam a entender o que está por trás deste desempenho. Na visão dos gestores, um excelente lugar para trabalhar é aquele em que a organização atinge seus objetivos, com pessoas que dão o melhor de si individualmente e trabalham juntas como uma família ou equipe, em um ambiente de confiança. Pronto, está identificada a fórmula do sucesso!
UMA SOCIEDADE MELHOR
O espírito da mudança social que Robert Levering sempre carregou aparece claramente na Missão definida para o Great Place to Work Institute®:
"Construir uma sociedade melhor, ajudando empresas a transformar seu ambiente de trabalho."
Através das pesquisas, fica claro que o impacto da melhoria do ambiente de trabalho não se restringe aos limites da empresa. As melhores empresas para trabalhar são mais responsáveis socialmente e suas ações não decorrem de "peso na consciência" mas porque realmente acreditam que devem compartilhar os resultados com seus funcionários e com a comunidade onde estão inseridas.
O presente estudo, desenvolvido pelo Great Place to Work Institute® em parceria com o jornal O Estado de São Paulo apresenta, entre as Melhores Empresas para Trabalhar em 2009, as 12 Maiores.
Os exemplos que estas empresas nos trazem, mostrando como cuidar das pessoas, representam um enorme impacto para toda a sociedade. São mais de 320 mil empregos diretos e na ordem de milhões de empregos indiretos, incluindo seus parceiros e prestadores de serviço.
Em 2008 apenas estas 12 empresas, nacionais e multinacionais, representaram mais de 5% do PIB brasileiro. Isto significa que estas empresas têm uma enorme responsabilidade, pois apresentam um alto poder multiplicador.
Servem de guia no momento em que o País entra para um período inédito em sua história, quando passamos de coadjuvantes a protagonistas no cenário mundial. Estas empresas estão transformando seu ambiente de trabalho e, com isso, construindo uma sociedade melhor para as próximas gerações.
Parabéns a todas!
*Ruy Shiozawa , ruy@gptw.com.br, é o CEO do Great Place to Work Institute®, Brasil